Plantas estão sob constante pressão e não apresentam mais o padrão de bienalidade
Seca e altas temperaturas têm sido vilãs para as lavouras cafeeiras do Brasil e especialistas já vislumbram consequências na qualidade dos grãos da próxima safra 2025/26. As condições climáticas que se arrastam desde agosto de 2023, embora não tenham impedido produções recordes dos grãos na safra 2023/24, são o principal alerta dado a produtores e a agentes de mercado durante o Fórum Café e Clima da Cooperativa Regional de Cafeicultores (Cooxupé).
"Para o próximo ano agrícola, a possibilidade de chuvas mais regulares a partir do final de setembro pode contribuir com a safra, entretanto o cenário ainda é de precaução devido às altas temperaturas e os estresses térmico e hídrico enfrentados pelas plantas de café", informou a cooperativa.
O evento, que aconteceu nesta quarta-feira (31/7) em Guaxupé (MG) e reuniu representantes do setor, debateu as condições da safra que está em curso (2024/25), além dos efeitos do El Niño que afetou diretamente a produção nos últimos meses e as projeções do La Niña nas praças produtoras.
Ainda que os preços no mercado internacional estejam em patamares altos, o engenheiro agrônomo Guilherme Vinícius Teixeira, coordenador do departamento de Geoprocessamento da Cooxupé, disse que safra atual enfrenta dificuldades significativas, devido à uma combinação de estresses térmico e hídrico nas 300 cidades do Sul e Cerrado de Minas Gerais, média mogiana do estado de São Paulo e Matas de Minas, que a entidade atua.
"A continuidade das condições climáticas desfavoráveis poderá acarretar perdas consideráveis na safra 2025", alertou. Como as altas temperaturas desde o ano passado impactaram o armazenamento de água no solo, os produtores relatam as mudanças no peso do grão e da peneira.
Segundo o Sistema de Monitoramento Meteorológico da cooperativa, desde março até agora são cerca de 120 dias não há precipitações significativas, o que continua a provocar a identificação de grãos menores e não tão doces para bebida.
Teixeira observou, ainda, que o estresse térmico está consumindo a energia produzida pelas plantas, provocando reflexos na produtividade. Em regiões de menor altitude, os desafios se agravam, acrescentou.
O agrometeorologista Marco Antônio dos Santos, sócio-fundador da empresa Rural Clima, informou que o La Niña deverá se manifestar entre o final de setembro e o início de outubro, com uma intensidade variando de fraca a moderada.
Apesar da demora, a previsão é de que haverá chuvas entre o final do mês de setembro e a primeira quinzena de outubro, desencadeando uma possível florada com bom pegamento e uniformidade. A expectativa é que o pico da La Ninã ocorra em janeiro de 2025 e possibilite um ano menos difícil para a cafeicultura, segundo o especialista.
"O fenômeno possibilita essa condição, porém não significa que devemos ficar despreocupados. É preciso mudarmos a forma de ver o clima diante das mudanças climáticas que têm ocorrido", apontou Santos.
Por outro lado, o professor José Donizeti Alves, da Universidade Federal de Lavras (UFLA), ressaltou que, embora as previsões de chuva se concretizem, "as lavouras estão sob constante pressão e não apresentam mais o padrão de bienalidade".
Para ele, as estratégias de manejo adaptativas, como o uso de sistemas de irrigação, para mitigar os reflexos do clima são cruciais, como o uso de variedades tolerantes e assíduo monitoramento do clima para conseguir manter produtividade também em veranicos.
Segundo o professor, o estresse térmico foi o fator que mais impactou a produção de café nesta safra, tanto em lavouras irrigadas quanto em sequeiros, por isso a necessidade de se precaver.